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Puerpério: o que ninguém conta sobre o pós-parto

O retorno para casa após o nascimento do bebê traz consigo uma montanha-russa de emoções e desafios físicos. Vamos conversar sobre o que realmente acontece no puerpério e como enfrentar esse período com mais tranquilidade.

O que é realmente o puerpério?

O puerpério, esse período que vem logo após o parto, é uma fase repleta de transformações intensas que muitas vezes pegam as mamães de surpresa. Não é à toa que também é conhecido como “quarto trimestre” da gravidez. Durante essas semanas, seu corpo e sua mente passam por ajustes profundos enquanto você se adapta à nova vida com seu bebê.

Nós raramente conversamos com sinceridade sobre o que acontece nessa fase. Entre fraldas, amamentação e noites mal dormidas, muitas mulheres se sentem perdidas e se perguntam: “será que só comigo está sendo tão difícil?”. A resposta é não! O puerpério é desafiador para todas as mães, mesmo que de formas diferentes.

Quando conheci Maria, uma mãe de primeira viagem, ela me disse algo que nunca esqueci: “Passei nove meses me preparando para o parto, mas ninguém me contou como seriam os dias depois”. Essa é a realidade de muitas mulheres – nos preparamos para o grande momento do nascimento, mas pouco sabemos sobre o que vem depois.

As verdades físicas que ninguém conta

O corpo feminino é incrível em sua capacidade de adaptação, mas essa adaptação nem sempre é confortável. Vamos falar com honestidade sobre o que acontece com nosso corpo no puerpério:

Sangramento pós-parto (lóquios)

Uma das primeiras surpresas para muitas mães é o sangramento pós-parto, chamado de lóquios. Não é como uma menstruação comum – pode durar semanas e variar de intensidade. Nos primeiros dias, é mais volumoso e vermelho vivo, gradualmente mudando para rosado e depois amarelado ou esbranquiçado.

“Achei que depois de uma semana o sangramento pararia, mas ele continuou por quase 40 dias, mudando de cor e intensidade. Ninguém tinha me avisado disso!”, compartilhou Ana, mãe de duas crianças.

A barriga não some como mágica

Aquela ideia de que você sai da maternidade com a barriga lisa é puro mito! Após o parto, a barriga ainda parece de uns 6 meses de gravidez, e isso é completamente normal. O útero leva cerca de seis semanas para voltar ao tamanho normal, e a pele e os músculos abdominais precisam de tempo para se recuperar.

Cólicas pós-parto

Os famosos “repiques” são contrações uterinas que ajudam o útero a voltar ao tamanho normal. Essas cólicas podem ser bastante dolorosas, especialmente durante a amamentação e para mães que já tiveram outros filhos.

Amamentação: prazer e dor

A amamentação é maravilhosa, mas pode ser dolorosa no início. Rachaduras nos mamilos, empedramento das mamas e até mastite são desafios reais que muitas mães enfrentam. Buscar ajuda com consultoras de amamentação pode fazer toda a diferença nesse momento.

Suor noturno intenso

Muitas mulheres ficam surpresas com o quanto suam durante as noites do puerpério. Isso acontece porque o corpo está eliminando o excesso de líquidos acumulados durante a gravidez. É comum acordar com os lençóis molhados!

Queda de cabelo

Algumas semanas após o parto, muitas mulheres notam uma queda de cabelo significativa. Isso acontece devido às mudanças hormonais e geralmente se normaliza alguns meses depois.

Incontinência urinária temporária

Especialmente após partos vaginais, é comum sentir dificuldade para segurar a urina ao tossir, espirrar ou rir. Os exercícios para o assoalho pélvico são fundamentais nessa recuperação.

Os desafios emocionais do puerpério

Os puerpério sintomas emocionais são tão reais quanto os físicos, mas frequentemente são minimizados ou ignorados. Vamos falar sobre eles:

Baby blues

Entre 50% e 80% das mães experimentam o chamado “baby blues”, um período de instabilidade emocional que costuma aparecer por volta do terceiro dia após o parto e pode durar até duas semanas. Caracteriza-se por choro fácil, irritabilidade, ansiedade e mudanças rápidas de humor.

“Em um momento eu estava radiante olhando para meu bebê, no outro estava chorando sem motivo aparente”, conta Paula, mãe de primeira viagem. “Minha mãe me tranquilizou dizendo que isso era normal e passageiro, e realmente passou depois de alguns dias.”

Privação de sono

A falta de sono contínua tem efeitos profundos na saúde mental. No puerpério, com as mamadas frequentes, é quase impossível ter uma noite inteira de sono, o que pode afetar seu humor e capacidade de lidar com os desafios diários.

Sensação de perda de identidade

Muitas mulheres sentem que perderam sua identidade anterior, agora sendo reconhecidas principalmente como “a mãe de alguém”. Essa transição pode ser difícil e gerar sentimentos conflitantes.

Solidão e isolamento

Apesar de nunca estar sozinha (o bebê está sempre lá!), o puerpério pode ser um período de profunda solidão. As visitas diminuem com o tempo, o parceiro volta ao trabalho, e muitas mães se veem isoladas em casa, lidando com as demandas constantes do bebê.

Depressão pós-parto

Mais séria que o baby blues, a depressão pós-parto afeta cerca de 10% a 15% das mulheres. Seus sintomas incluem tristeza persistente, desinteresse por atividades antes prazerosas, alterações no apetite e sono, pensamentos negativos recorrentes e, em casos graves, pensamentos de machucar a si mesma ou ao bebê. Buscar ajuda profissional é fundamental.

Ansiedade pós-parto

Menos falada que a depressão, a ansiedade pós-parto manifesta-se por preocupações excessivas, medo constante de que algo ruim aconteça com o bebê, pensamentos intrusivos e até ataques de pânico.

“Eu checava se meu bebê estava respirando dezenas de vezes por noite. Não conseguia dormir de tanto medo que algo acontecesse com ele”, relata Carla, que só conseguiu ajuda quando seu filho já tinha 4 meses.

Como se cuidar no puerpério

O autocuidado no puerpério não é luxo, é necessidade. Veja algumas orientações:

Aceite ajuda

Esse é o momento de deixar de lado o “eu faço tudo sozinha” e aceitar toda ajuda disponível. Seja para cozinhar, limpar a casa, cuidar de outros filhos ou até mesmo segurar o bebê enquanto você toma um banho demorado.

Priorize descanso

Dormir quando o bebê dorme pode parecer um conselho batido, mas é valioso. O descanso é fundamental para sua recuperação física e emocional.

Alimente-se bem

Uma alimentação nutritiva ajuda na recuperação do parto e na produção de leite. Tenha sempre à mão alimentos saudáveis e práticos de comer com uma mão só (você vai entender quando estiver com o bebê no colo o tempo todo!).

Não se cobre demais

Deixe a casa perfeitamente arrumada para depois. Concentre-se no essencial: cuidar de si e do bebê.

Converse sobre seus sentimentos

Compartilhar o que você está sentindo com pessoas de confiança pode aliviar muito a carga emocional. Grupos de apoio a mães também são excelentes espaços para isso.

Busque ajuda profissional quando necessário

Se os sentimentos negativos persistirem ou interferirem em sua capacidade de cuidar de si ou do bebê, não hesite em buscar ajuda profissional. Não há vergonha nisso – na verdade, é um ato de amor por você e seu bebê.

A importância da rede de apoio

Uma rede de apoio sólida faz toda a diferença no puerpério. Isso pode incluir:

Parceiro ou parceira

Se você tem um companheiro, esse é o momento dele/dela assumir responsabilidades. Dividir os cuidados com o bebê, principalmente durante a noite, pode ser um grande alívio.

Família e amigos

Mães, sogras, irmãs, amigas que já passaram pelo puerpério – essas pessoas podem ser valiosas não só pela ajuda prática, mas pelos conselhos baseados em experiência.

Profissionais de saúde

Obstetras, pediatras, enfermeiras, doulas pós-parto, consultoras de amamentação e psicólogos formam uma rede de profissionais que podem ajudar em diferentes aspectos do puerpério.

Puerpério de cada filho é diferente

Algo importante que pouco se fala é que cada puerpério é único. Se você já teve outros filhos, não espere que a experiência seja idêntica.

“Meu primeiro puerpério foi tranquilo fisicamente, mas emocionalmente devastador. Já o segundo foi o oposto: tive mais desafios físicos, mas emocionalmente me senti muito mais segura”, conta Renata, mãe de dois meninos.

Fatores que podem influenciar cada experiência incluem:

  • O tipo de parto
  • A experiência prévia com maternidade
  • O temperamento do bebê
  • Sua situação financeira e profissional
  • O apoio disponível
  • Sua saúde física e mental prévia

Quando o puerpério acaba?

Tradicionalmente, considera-se que o puerpério dura cerca de 40 dias (a famosa “quarentena”). No entanto, médicos e psicólogos reconhecem hoje que as mudanças físicas e emocionais podem se estender por muito mais tempo.

Do ponto de vista físico, a recuperação completa pode levar de 6 meses a 1 ano. Já emocionalmente, a adaptação à maternidade é um processo contínuo, que se transforma com o crescimento do bebê e as novas fases que surgem.

Puerpério também para os pais

Embora o foco principal esteja nas mães, os pais (ou o segundo cuidador principal) também passam por um período de adaptação significativo. Mudanças na rotina, privação de sono, novas responsabilidades e até mesmo alterações hormonais (sim, homens também apresentam mudanças hormonais quando se tornam pais!) podem afetar seu bem-estar emocional.

A depressão pós-parto paterna é real e afeta cerca de 8% dos homens. Os sintomas podem incluir irritabilidade, afastamento emocional, aumento no consumo de álcool e comportamentos de risco.

O puerpério na cultura brasileira

No Brasil, temos algumas tradições relacionadas ao puerpério, como:

Resguardo

O período de resguardo, tipicamente 40 dias, é uma prática antiga que incentiva a mãe a descansar e se recuperar, evitando esforços físicos e exposição a intempéries.

Restrições alimentares

Em algumas regiões, existem alimentos considerados “remosos” que devem ser evitados no puerpério, enquanto outros são incentivados para “fortalecer” a mãe e ajudar na produção de leite.

Cuidados com a “mãe do corpo”

Em algumas tradições, acredita-se que o útero (chamado de “mãe do corpo”) precisa voltar ao lugar depois do parto, o que justificaria o uso de faixas abdominais e certos chás medicinais.

Embora algumas dessas práticas não tenham respaldo científico, elas carregam a sabedoria de gerações que reconheciam a necessidade de cuidados especiais nessa fase.

As principais dúvidas sobre o puerpério

Muitas mulheres têm dúvidas semelhantes sobre esse período. Vamos abordar algumas das mais comuns:

Quando posso voltar a fazer atividades físicas?

Para exercícios leves, como caminhadas curtas, geralmente é seguro começar após duas semanas do parto vaginal sem complicações. Para cesáreas ou partos com complicações, o tempo pode ser maior. Exercícios mais intensos normalmente devem esperar a liberação médica na consulta de retorno (em torno de 40 dias).

Quando a menstruação volta?

Para mulheres que não estão amamentando exclusivamente, a menstruação pode voltar entre 6 e 12 semanas após o parto. Para aquelas que amamentam exclusivamente, pode demorar meses ou até o fim da amamentação exclusiva.

É normal sentir dor durante relações sexuais depois do parto?

Sim, é comum sentir desconforto ou dor nas primeiras relações sexuais após o parto, independentemente do tipo de parto. A diminuição dos níveis de estrogênio causa ressecamento vaginal, e pode haver sensibilidade na região perineal. Lubrificantes à base de água podem ajudar, e se a dor persistir, consulte seu médico.

Como lidar com as visitas?

Estabeleça limites claros. Está tudo bem pedir para as pessoas lavarem as mãos antes de tocar no bebê, limitar o tempo de visita ou até mesmo adiar visitas se você não estiver se sentindo preparada.

Como equilibrar a atenção entre o novo bebê e outros filhos?

Inclua os filhos mais velhos nos cuidados com o bebê, de acordo com a idade deles. Reserve um tempo especial só para eles todos os dias, mesmo que sejam apenas 15 minutos de atenção exclusiva.

Pontos principais para lembrar sobre o puerpério

  • O puerpério é um período de intensas transformações físicas e emocionais
  • As mudanças corporais incluem sangramento prolongado, cólicas, suor noturno e recuperação gradual do útero e abdômen
  • Os desafios emocionais podem variar desde o transitório “baby blues” até condições mais sérias como depressão e ansiedade pós-parto
  • Autocuidado não é egoísmo, mas necessidade nessa fase
  • Uma rede de apoio sólida faz toda a diferença na experiência do puerpério
  • Cada puerpério é único, mesmo para a mesma mulher com diferentes filhos
  • O período de recuperação pode se estender muito além dos tradicionais 40 dias
  • Os pais/parceiros também passam por um período de adaptação significativo
  • É importante buscar ajuda profissional se os sintomas emocionais forem intensos ou persistentes
  • Tradições culturais sobre o puerpério muitas vezes carregam sabedoria ancestral sobre a necessidade de cuidados especiais nessa fase

O puerpério, com todos os seus desafios e descobertas, é uma fase temporária. Por mais difícil que pareça em alguns momentos, vai passar. O importante é não se isolar, buscar ajuda quando necessário e ter compaixão consigo mesma nessa jornada intensa de transformação. Afinal, além de nascer um bebê, nasce também uma mãe, e ambos merecem cuidado, tempo e amor para florescer.

Lembre-se: não existe mãe perfeita, existe mãe real. E ser real, com todas as dificuldades e alegrias, é mais do que suficiente

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